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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Thursday, November 01, 2012

Sobre o ano que não terminou...


1968. Há muito desejava ler a obra de Zuenir Ventura: 1968 O Ano que não Terminou – A aventura de uma geração. Nesse livro-reportagem entramos em contato com o melhor e o pior da história do país. Deparamos-nos com uma geração de movimento e uma sociedade em ebulição cultural. Por outro lado, a repressão tomando conta de todos os poros da doxa.

Há dois anos puxei o livro da estante. Comecei a ler. Deu-me enjoo o contato com o ambiente espúrio do Brasil dos anos de 1960, embora eu sempre tenha gostado de estudar sobre esse período histórico, o ditatorial, para fazer minhas humildes comparações com o Brasil dos anos 2000. Ditaduras diferentes, mas ainda assim ditaduras, até porque hoje ela se apresenta de forma mais “velada”. No fritar dos ovos, o período ditatorial também tinha em seu DNA o desejo exacerbado pelo poder, movido pela ganância financeira. Hoje, só quem realmente não quer entender, sabe que vivemos em uma ditadura econômica. A diferença é que ainda estamos longe do pau de arara comandado pelo humano. Fisicamente falando, lógico.

A obra, que começa e termina em um ano novo, em proporções e alegrias diferentes, me fez compreender outro lado do governo militar. Vi durante a leitura que, nesse período de repressão, de corte de liberdade, em todos os sentidos, contávamos com homens e mulheres de uma capacidade cavalar para criar cultura e contracultura. De produzir música, literatura, teatro e afins de uma forma não mais vista no século XXI. Lamentavelmente os militares governavam uma sociedade rica culturalmente. Que soube, através da arte, expressar o seu descontentamento, sua posição frente ao poder reinante, sem medo das consequências. Haja vista os teatros fechados, o exílio de Chico Buarque e Caetano Veloso, que durante a leitura descobri que tinham uma rixa, e o massacre dos estudantes, como a passeata dos 100 Mil, após o assassinato de Edson Luís.

Muitas histórias, muitas uniões culturais, muitos mal entendidos e amizades sendo estabelecidas após o AI-5, o golpe dentro do golpe que realmente foi uma carnificina social. Debrucei-me sobre a obra, como havia começado a dizer, por me interessar pelo assunto. Mas, porque como das vezes anteriores em que iniciei a leitura, não pude deixar de lado.

Explico-me: desde que decidi rumar para o mestrado, e finalmente defini o tema de minha dissertação, a Ditadura Militar passou a ser, ainda mais, parte integrante de minhas leituras e estudos. Por utilizar o método de Hermenêutica de Profundidade –HP – para analisar meu objeto de estudo, a Revista Realidade, é obrigatório que eu mergulhe nos porões ditatoriais e em suas consequências. Uma das etapas da HP é a análise sócio-história do córpus em estudo. Tomei, assim, vergonha na cara e me dediquei a leitura que, não só acrescentará na primeira fase de cada reportagem analisada como referência bibliográfica, como adicionou ainda mais entendimento sobre esse período nublado, frio e sanguinolento, vivido em nosso país tropical.

Uma leitura que deve ser feita, principalmente, pelos jovens de hoje. Para que esses sejam capazes de tirar suas próprias conclusões sobre a história do Brasil e, ainda, para que não se deixem entorpecer por aqueles que ainda querem tapar com panos quentes a estupidez militar. Para fazermos o hoje, precisamos conhecer o ontem e ver que, os motivos “sociais” que causaram lá em 1964 o golpe de Jango (Reforma Agrária, estudantil e tantas outras), não foram resolvidos nem dentro, nem fora da ditadura. Mas, as consequências estão aí. Vale a leitura do 1968, o ano que realmente não terminou mas que, deixou além das marcas brutais, um legado cultural gigantesco. 





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