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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Sunday, August 28, 2011

O prazer do texto


Nossa, estava com muitas saudades de sentar na frente de uma folha em branco e pensar em um texto para o blog. Mas, estava sumida não por falta de vontade de escrever, mas por ter outras folhas em branco a serem preenchidas. A vida é assim, estamos aqui, daqui um pouco lá. Algumas coisas, no tic-tac da vida vão ficando para trás, só que é importante e saboroso resgatá-las.

E, justamente por essa coisa louca que se chama escrever, ou como disse acima, ir preenchendo outras páginas, quero falar, sobre o discurso, a palavra a linguagem. Conforme meu mestre invisível, Roland Barthes, é por meio da linguagem que o homem se representa. É pela palavra que legitimamos nossos pontos de vista, nossas escolhas e que, na maioria das vezes, nos expressamos.
Há aquele ditado, após a palavra proferida (ou escrita) não há volta.

Seguindo a linha de meu mestre Barthes, cada palavra possui um signo e, até o mais simples dos e-mails contém códigos que podem ser desvendados e que não estão explícitos.

Há uma gama de categorias que podem nos auxiliar. Podemos perceber os estereótipos que nos encaixam ao falarem conosco, com a forma de expressão. Os mitos que criamos e os outros criam ao se dirigir a nós, a cultura da pessoa e o poder de seu discurso. Isso para mim é o mais importante. Geralmente pensamos que escrevemos algo com propriedade, mas, quando a nossa narrativa reporta-se a impressões pessoais, muitas vezes deixa de ser um discurso acrático, ou seja carregado de poder, para se tornar um discurso encrático, ou seja, totalmente fora do poder. Isso se encaixa perfeitamente quando, pelas palavras as pessoas buscam nos julgar, ao escreverem o que pensam sobre o que pensamos, o que sentimos. Criam um mito sobre nós, um estereotipo. Nem sempre é verdade. Sabe, usar o coração para decodificar um texto também funciona.  É a intuição, nosso sexto sentido, como explica Jung, que entra em ação.

Desde que conheci a Semiologia de Barthes (que em muito se liga com as teorias do psicólogo Jung), confesso que não me passa despercebido nenhum discurso que me cai na mão. Nenhum mesmo! Até o mais simples dos e-mails que recebo, sei que vem carregado de vários significantes, obviamente todos subliminares. E, durante esse meu período de afastamento daqui, estive em contato com muitos discursos que tentavam me provar uma coisa quando, na verdade estava claro um outro posicionamento. Parei para pensar quantas e quantas vezes deixei passar em branco essas pequenas pistas e, quantas vezes poderia ter me envolvido menos com pessoas e questões que me fariam sofrer depois. Claro que aí entra a peça que nosso inconsciente prega por não querermos ser rejeitados, mas o surreal tem vida curta e, geralmente, quando mais passa o tempo, maior é o tombo, o machucado, a cicatriz.
Não me tornei uma pessoa fria ao tentar analisar semiologicamente questões que tangem minha vida pessoal, apenas aprendi mais uma forma de ver as coisas com clareza e me defender de momentos que podem me trazer prejuízos emocionais mais tarde. Reafirmei, também, nesses discursos, o que aprendi há muitos anos, que a vida é um entra e sai de pessoas queridas, mas que não devem fazer parte de nossa caminhada após um tempo. E não falo de nossos entes queridos desencarnados, falo de pessoas que estão habitando este planeta, que entram e saem de nossas vidas nesse mesmo orbe.

Ao completar minha 32ª primavera, há 15 dias atrás, resolvi parar e repensar muitas coisas na minha vida, pois, assim como existe o vai e vem de pessoas, existe o vai e vem de situações inusitadas, situações que chegam com o tempo, com a maturidade e que nos mostram que crescemos e que, aquela menina que lia histórias de amor e só se preocupava com a boneca, precisa se preocupar com questões bem maiores que envolvem o bem estar da família, enxerga que o amor sublime não existe e que príncipes em cavalos brancos estão apenas nos discursos da ficção. Aprende que precisa se virar em 1001 para dar conta da demanda de um simples dia de 24h e que, muitas vezes quando busca alguma coisa que possa lhe dar prazer, encontra a dor.

Isso deve ser amadurecer, crescer, se tornar adulto. Quis muito em minha infância chegar a vida adulta, agora, acho que meus discursos infantis eram bem mais leves dos que leio por ai, dos que muitas vezes produzo, mas mesmo com toda essa contrariedade, não deixaria por nada a oportunidade que tenho hoje de criar meu próprio discurso e poder ver no dos outros até onde posso ir. Ai, é só virar a página e preencher uma nova folha, com os aprendizados e com fé, sem nunca perder o prazer do texto, da representação da vida por meio das palavras e de vivê-la com seus altos e baixos. 





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