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Professora, Jornalista, Relações Públicas e Mestre em Comunicação Social. Apaixonada pela comunicação e pelo imaginário humano e cultural.

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Thursday, October 07, 2010

Medo dos vivos

Por Bruna Silveira


Assim meu avô tentava me acalmar, quando então criança eu acordava de um pesadelo e jurava ter sonhado com um morto. Frase rotineira no vocabulário do meu velhinho Paulo, como toda paciência ele vinha e me dizia, “tenha medo dos vivos minha filha, não dos mortos”. E sabe que o velho estava certo?



Há tantos dias sem escrever, devido a falta de tempo, algumas situações inusitadas ficaram gravadas em minha retina, me confirmando o que sempre ele queria me dizer. De uns tempos para cá vejo as pessoas brigando, cada vez mais, por motivos irrelevantes, vejo o mau-caratismo pairar com mais força dentro dos ambientes de trabalho e, ainda pior, dentro da vida social das pessoas.


Vejo gente optando por uniões conturbadas, amigos traindo amigos e penso: quem são meus verdadeiros amigos, será que os tenho? Ou seria eles apenas “os mortos”? Como médium, não me soa estranho dizer que, mesmo com 31 primaveras, tenho amigos invisíveis. Mas invisíveis para quem? Para outras pessoas que não conseguem vê-los e nem conversar com eles. Sim, eu consigo isso. E, afirmo sem problema algum: são mais meus amigos do que muito vivente terreno que se aproxima de mim. Eles não têm inveja, não competem comigo nem profissionalmente e nem na área afetiva. Sim, mais do que nunca as “amigas” ainda competem pelo mesmo homem. Eles não competem roupas comigo, nem cargos profissionais e nem tentam ser mais que eu, muito menos ser uma cópia minha. E eu não tento ser mais do que eles. Cada um é secular, tem sua caminhada, suas aptidões, seus defeitos e virtudes. Ninguém é mais, ninguém é menos, apenas os estágios evolutivos diferem. Mas diferem para quem não tem interesse em fazer sua reforma íntima, para aqueles que ainda competem por bens materiais. Pela beleza, pela jovialidade, por aqueles que não encaram a sua realidade e não entendem, tão pouco se adaptam as seus anos vividos. Não que eu achei que idade é algum fator relevante nesta hora. Mas algumas vezes, cada coisa e cada pessoa tem que ficar no seu lugar.


Ao assistir, tardiamente, assumo, o filme o Solista, me dei por conta que muitas pessoas deste planeta passam por uma esquizofrenia sem se dar conta. No filme, sei que o Solista, tem noção de que não é um ser normal, mas não admite sua condição de doente mental. Não no sentido vulgar, mas de uma pessoa que precisa de ajuda. Sim, todos nós, dentro de seu grau, precisamos da ajuda do outro. Vivemos em sociedade e não somos seres feitos para viver em isolamento. Do contrário, como faríamos nossa evolução? Enfim... Justamente por pensar que somos sociáveis, capazes de nos comunicar e de nos fazermos entender, precisamos prestar atenção naquela voz interior chamada humildade e dizer que precisamos de ajuda.
O mundo precisa de ajuda. Os animais, o meio ambiente, as empresas, as pessoas. Mas só aceitando isso poderemos melhorar nossa condição de vida. Copiar o modelo do outro não resolve, cada um precisa de sua própria receita.


Sim, meus amigos do outro mundo me ajudam, muito, mas na medida em que eu deixo. Tenho consciência que muitas vezes pela minha visão mundana demais barro as compreensões necessárias. Mas tento, acho que muita gente tenta. Mas tem gente que não escuta nem os vivos, que dirá os mortos.
Do jeito que tenho percebido o mundo, para a frase do meu avô adiciono complementos: “tenha medo dos vivos minha filha, não dos mortos, ELES SÃO NOSSOS AMIGOS VERDADEIROS, NÃO ESTÃO EM COMPETIÇÃO”. Briga essa que vemos apenas na terra, local de expiação, ainda, mas por curto tempo.

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